Poema do Sérgio Estevinha

Pois é! O Lifestyle está cheio de grandes talentos em variadíssimas áreas: Cinema, teatro, dança, pintura, designer, física, ciências humanas, arquitectura.

E mais não dizemos!

Depois dos talentosos Tomé Vieira (actor) e da produtora Susana Sousa, segue o nosso sociólogo com veia de escritor, Sérgio Estevinha com este lindo poema,

Às voltas na noite

Olhei pela janela
Vi o meu carro à minha espera
Entre um cigarro e outro pensei
Desvendar esta noite de Primavera
Saí de casa
Estava uma suave brisa na rua
Por entre o silêncio da estrada
A noite é toda tua
Conduzo devagar
O teu rosto na bruma
Imagino os teus lábios
Na iminência da curva
Tento esquecer o passado
Tento agarrar o futuro
Vejo a frente do meu carro
A guiar-me no escuro
Não sei para onde vou
Sei que sinto um vazio
A cidade para trás ficou
Entro na ponte
Atravesso o rio
O meu coração a mil à hora
O teu corpo é a minha imagem
Sinto calor e faz frio
Faço mais uma ultrapassagem
É então que olho o espelho
E tudo o que ficou para trás
Quero ver o fim do mundo
E as aventuras que a estrada me trás
Tento encarar e compreender o presente
Mas sinto que a ilusão terminou
E sei que a tua voz inteligente
Foi um som que se apagou
Aumento o volume, para ouvir melhor
Esse silêncio
E sinto as marcas que ele deixou
E os momentos que nos roubou
É, então, que o sol começa
Lentamente, a vencer a noite
Estacionado na falésia
Vejo mágoa no horizonte
Sinto o prazer do nada
E a luz da madrugada
Sinto que há que voltar
Há uma estrada a enfrentar
E o caminho tortuoso
Um dia vai dar lugar
A um novo alcatrão
A um outro doce olhar
A vida chama por mim
E eu tenho de responder
Há uma estrada que não dorme
Só não sei onde irá ter
Sei que sou um fugitivo
E que agora estou aqui
Mas amanha eu quero ter
Um novo lugar para mim
Há uma guitarra que toca
Incessante, sem parar
Há uma rota difusa
E eu sempre a viajar
Na auto-estrada do amor
Apenas quero acelerar
Devorar quilómetros e esquecer
A tua voz, o teu olhar.

Sérgio Estevinha